14 de junho de 2009

Sobre o Amor e o Amar

É preciso ser baixo para amar. É preciso rastejar. É preciso abandonar a altivez da solidão e da individualidade para amar verdadeiramente. Pois amar é conspurcar a própria carne, trair a si mesmo. Abdicar.

Mas que não se engane. Tudo isso não pelo outro, mas por si mesmo. Não é ao outro que se ama, mas o amor que se sente por tal pessoa. Se ama, ama somente o amor que por ela sente, não ela em si. A condição do outro também amar só serve para manter o amor que tem por ele e alimentar o egoísmo. Em profundidade, a reciprocidade do amor em nada interfere na agradabilidade do amar. Ama-se o amor que sente-se e exige-se o amor para não ser humilhado por oferecer algo e nada receber em troca. Quem é capaz de amar por muito tempo e não ser correspondido? O amor só é durável se haver a troca de amores. Se se elege alguém como depositário de amores e atenções, é humanamente justo que se seja também amado.

O amor, assim como a felicidade, requer egoísmo. É preciso pensar em si mesmo para amar e ser feliz amando. Se me gastar em preocupações alheias, não serei feliz. Se me anular em função do objeto de amor, não serei feliz e não amarei por muito tempo. Graças a esse egoísmo profundamente intrínseco e a essa ambigüidade entre abdicação e retorno, o amor é um sentimento humano por excelência, criatura contraditória e egoísta.

O ciúme, a mais abjeta qualidade humana, provém exatamente desse fato e o comprova. Se amar é também esperar retribuição, o ciúme é a possibilidade do egoísmo não saciado. Isso e, no entanto, amor sem ciúme resume-se a mero uso, a utilização do outro, a egoísmo sem amor. O ciúme, irmão (não gêmeo) da posse é inerente e constituinte do amor.

Se rebaixar ao subnível dos Homens para amar e aí alcançar a felicidade e ador mais avassaladora, no ápice do que é ilusório, mundano e humano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
1 Coríntios 13

Ele te ama.