24 de março de 2008

Diário do Eloqüente (24/03/2008)

Loquaz diário, hoje fui ao banco. E como de costume me deparei com aquela quilométrica fila até o solitário a abatido caixa em funcionamento.

Naquela espera tediosa, uma senhora tenta iniciar uma interessante conversa comigo. Comigo. Logo comigo!:

- Calor hoje, né?

- Ô!

- Mas tem umas nuvens aparecendo e o sol já começa a ficar encoberto. Será que chove?

- Talvez...

- Eu vi no noticiário do meio-dia, quando passou a previsão do tempo que ia chover hoje a tarde.

- ...

- Tomara que chova mesmo, não dá mais pra agüentar esse calorão que não pára! E essa seca no interior do estado ainda por cima. Seria bom se chovesse, né?

- Aham.

- Mas teria que ser uma chuva consistente que molhasse bem o chão e desse uma refrescada. Porque esse calor danado! Ainda mais aqui no vale que não tem nenhuma brisa! Tudo culpa do Efeito Estufa, só pode. Blá-blá-blá...

E ela prosseguiu nesse falatório relevante durante todo o torturante percurso até o caixa.

Ainda bem, diário, que temos conversas tão interessantes como a desta tarde no banco para nos livrar do tédio cotidiano.

Cansado

Estou cansado.
Cansado de acordar as manhãs.
Cansado de ver o dia nascer e morrer ante meus olhos cansados de ver.

Cansado de observar a lua nua crua na rua me mirando do céu,
como se até ela notasse e anunciasse o meu cansaço.

Cansado de toda essa gente
zanzando intermitente,
epalhando pólen e colhendo néctar para levar o mel
a uma colméia sem rainha.

Cansado de ouvir o som,
esse zum-zum-zum irritante
de anúncio altissonante
do tédio que não tem fim.

Cansado de cheirar o monstruoso amontoado mal-cheiroso
de um mundo supérfice que apodrece.

Cansado de tanto arrosto
apenas para provar o gosto insosso
e tocar a parede fria
num sem-sentido dos sentidos.

Cansado de fazer planos
para um futuro que nunca chega.
Um futuro que não existe fora dos meus sonhos cansados de sonhar.

1 de março de 2008

Eu

Eu. Meu. Teu.

Eu: fariseu ou filisteu? Talvez, quem sabe, apenas um mutante Proteu. Sei eu.

No mundo existem bilhões de eu. Mas nenhum deles me importa. Tudo o que me interessa sou eu, bilhões de vezes eu.

Quem sou eu? Nem apaixonado Romeu, nem heróico Perseu, nem potente Briareu, sou eu apenas um desconhecido plebeu.

E aí, entendeu? Que merda, então fodeu.