1 de dezembro de 2009

Dizem

Dizem que devo amar o próximo,
mas não dizem que próximo é esse.
Todos?
Amar todos? Hipocrisia.
Não, obrigado. Prefiro a cruel honestidade.
Se amar, devo escolher quem. Se os amo, os protejo e os faço especiais para mim.
E para isso é preciso que eu os coloque acima de outros.
Como amar quem não conheço? Burrice.
Não, obrigado. Prefiro a limitada inteligência.

Dizem que devo estender as mão,
porque elas são boas e úteis quando firmes e limpas,
caso contrário, restará apenas a chuva.
Não é difícil me culpar pelo orgulho e pela amargura.

Dizem que devo fazer algo para o mundo,
um mundo que nunca fez nada por mim,
nem por ninguém.
Um mundo indesejado e decadente, que não escolhemos.

Dizem que devo agir,
mas não dizem por quê.
Dizem que a outra opção possível é a inércia
e que só me cabe escolher,
mas não dizem é o porquê de ter que escolher.
Não dizem porque, porque não sabem porque,
apenas dizem. Porque é bom. Que diante do bom, não é importante o porquê.
Mas não posso suprimir em mim essa fome de sentido,
onde minh'alma vaga fareja o porquê. Fareja a aurora e o crepúsculo, onde o insucesso sempre retorna.

Querem dizer que não tenho importância só para mim.
Sou apenas se para-os-outros. Sou se servil.
Querem dizer que sou fraco por ser só. Querem dizer que preciso deles para ser.
Mas não podem. Falam detrás de máscaras.

Por fim,
dizem que desperdiço, que traio, que poluo.
Temem não ser eternizados.
Conhecem e repudiam a podridão em que chapinham tanto quanto eu.

Exalto a diversidade. Da única vida que tenho e à qual digo "sim". Na qual explodo e experimento.
Repugna-me a violência, não por ser o próximo,
mas por ser um outro, que bem poderia ser eu.
Na elegia do egoísmo, defendo a minha raça.
Minha revolta é indolente e metafísica.
Minha ação é interior. Minha oferta é a tolerância. E isso é mais do que jamais fizeram ou proporcionaram.
Mas isto não dizem. E nunca dirão.

23 de novembro de 2009

Nada tenho a te oferecer

Nada tenho a te oferecer. Te peço perdão por isso. Por ser um sem-nada, um comum sem nada de extraordinário a te oferecer.

Nada tenho a te oferecer, flor do meu jardim. Nada a não ser o calor da proximidade no inverno ou o abrigo do sol. Nada além disso. Nada a não ser observar a tua beleza, te admirar durante horas, dias, anos. Te ver e me encantar com tua beleza desde o lindo botão que eras até o teu desabrochar, quando te tornaste a mais linda flor do meu jardim. E continuar te olhando, sem parar, sem cansar de contemplar o que de mais belo já tocou meus olhos. Prosseguir te olhando até que o céu escureça e clareie de novo mais de vinte mil vezes, quando o tempo cobrará o seu preço em nós e aos poucos formos murchando e uma a uma perderás tuas lindas pétalas suaves. E continuarei te olhando e te acharei bela até o final.

Nada tenho a te oferecer, bichana manhosa. Nada a não ser acariciar contente o teu pelo macio. Nada a não ser dividir meu alimento contigo. Nada a não ser o conforto aquecido do meu colo quando estiveres cansada, com sono ou carente. Nada além disso. Nada a não ser ir onde quiseres, desde que retornes para mim e tenha apenas um leito onde repousares. E se um dia fores e não voltares, ficarei preocupado e te irei buscar. Mas deixarei que vás, se assim quiseres, com lágrimas apenas em meu coração.

Nada tenho a te oferecer, pequena criança. Nada a não ser toda a ternura e afeto de que disponho. Nada a não ser um sorriso de complacência. Nada a não ser o perdão se errares ou a minha retratação se eu errar. Nada além da minha proteção, do meu abraço quando estiveres triste, frustrada ou com medo. Nada além disso. Não tenho nada a te oferecer, a não ser a promessa de que não conhecerás a solidão nem o desamparo enquanto segurares bem firme a minha mão.

Nada tenho a te oferecer. Perdão se em troca deste nada que te ofereço, peço a enormidade de me amar.

19 de novembro de 2009

Vida Grega

Nessa trajetória que percorro, quero apenas vagar pela ágora da Hélade e ter uma vida repleta de moderados prazeres epicuristas, humor cínico, visão cética e uma morte estóica.

20 de outubro de 2009

Por Favor

Por favor, faça isto por mim,
Só lhe peço isto:
Me dê à luz, abra meus olhos,
Me ensine a falar e a usar as farsas.
Acompanhe meu crescimento e me engane
Dizendo que o mundo tem cores.
Me agrida e grite comigo como se eu entendesse tudo.
Me faça parte do rebanho sem pedir minha opinião.
Seja minha mãe, me embale no colo,
Beije minha testa à noite e na noite seguinte
Se suicide
Por desencanto com a vida.
Ah, por favor
Seja meu pai, meu modelo, minha meta
E depois me rejeite, chute e cuspa.
Desapareça sem satisfação.

Me ame, diga que me ama.
Faça juras de amor eterno para mim.
Então me traia.
Me culpe por isso tudo, diga que não mais me ama
E vá embora com lágrimas sem olhos.
Seja meu amigo,
Divida a mesa comigo,
Depois roube meu ouro, meu teto, minha esposa e meu cão.
Seja meu filho,
Faça de mim a tua fortaleza super-heróica,
Mas depois me odeie e sinta vergonha do que sou.

Me dê um emprego
Que me prive da luz do sol,
Que abocanhe meu tempo de vida e preencha meu rosto com rugas
Para me pagar com felicidade de papel
Efêmera, falsa e superfaturada.

Me dê, por favor,
Me dê um revólver
Com o qual possa atirar contra a cabeça.
Mas depois salve,
Me socorra
E salve a vida que não quero.
Devolva a minha respiração sem movimento e sem sanidade.
Acabe de roubar o que eu já não tinha mais
E me abandone para sempre num chão úmido de um canto escuro
Onde eu não veja a luz, não coma, não beba
E alivie-me sobre mim mesmo durante anos.
Até que meu coração pese tanto
Que não tenha mais força para continuar batendo.

E então, finalmente,
Ah, sim, por favor,
Arranque minha alma
E a arraste para o inferno
Como paga aos meus pecados.
Obrigado.

4 de outubro de 2009

A Morte da Estrela

Quão longa ou quão curta é a vida de uma estrela? Elas, como tudo o que há, não são eternas. Medir esse tempo é incerto. A imensidade de algo sucumbe ante a sua intrínseca finitude.

Tive eu, já certa vez, uma estrela. Tão fugaz e efêmera que nem sei quantas Eras passaram antes que eu a perdesse. Estando, preguiçoso amador, a fitar o firmamento pontilhado, vi, após longo tempo, uma estrela que nunca havia visto me sorrir o mais encantador dos sorrisos estelares. Todas as noites, então, admirava a estrela enquanto ela sorria.

A admirei tanto que minha alma se perdeu, alçou o céu noturno até beijar a estrela por tantos segundos que o Universo se manteve inalterável. E terminou. Minha alma caiu com o perfume entranhado e a estrela sumiu.

Foi embora, deixando para trás o rastro dourado da cabeleira meteórica que ainda brilha com saudade em meus olhos.

Não, não caiu, vindo ao meu encontro, incendiando a minha vida em poeira cósmica. Impassível que era em abandonar as alturas das suas certezas. Não, não morreu, minha alma ainda fareja o seu perfume.

Agora, nas noites de insônia, que são todas, com cem rugas a mais no rosto, observo o céu. E toda estrela que sorri me alegra. Até perceber que não é ela a minha estrela sorrindo. E prossigo a minha busca carrancudo.

17 de agosto de 2009

Ulisses desamarrado

Com os pés descalços na areia
E os olhos entre o céu estrelado,
Cria forma, tu, celeste sereia
Tomando meu coração com teu canto
Até que todos os sons do mundo
São tua voz de paraíso chamando meu nome.

Textura de nuvem, brisa suave, visão do trigo maduro.
Meu coração é sempre e cada vez mais teu,
Através de um oceano de alma incendiada.
Já não vivo senão embriagado em teu perfume.

Sou serei o refúgio onde aportam tuas mágoas, lágrimas e cansaços.
Sou serei o eco dos teus risos, a sombra dos teus passos
E o amanhecer dos teus coloridos olhos.
A habitação aquecida das frias noites de inverno.
Reconfortante aragem que sussurra...
Te amo.

14 de junho de 2009

Aurora de Róseos Dedos

Meia madrugada. Acordo. Banheiro e gole d’água. De repente, sou atacado por uma súbita angústia, meu espírito recorda as feridas sofridas durante o dia. A insônia estava instalada. Depois de me debater inutilmente na cama, com a certeza de não mais dormir, levanto, me visto e vou dar um passeio a pé no bairro. Eram 5:30 da manhã.

O céu a essa hora parece mais iluminado do que à noite, como se fosse o último e mais intenso brilho antes do fim. Vênus brilhava quase tanto quanto a lua, enquanto nas ruas, imperava a escuridão e o silêncio. Vez ou outra um carro solitário ganhava o asfalto lentamente, envergonhado de estar na rua a tal hora de domingo. Somente os gatos terminavam sua ronda e começavam a voltar para o conforto de seus lares.

A temperatura estava por volta dos 8ºC, minhas orelhas doíam e meu nariz congelava e impedia de sentir qualquer cheiro que não fosse o da fumaça dos primeiros fogões à lenha que começavam a ser acesos.

Ouvi os sinos das igrejas badalarem às 6 da manhã.

Após uma hora vagando pelas ruas desertas, subi até a parte alta do bairro para tentar ver nascer o sol. Esperei lá parado, em pé, à maneira daquelas estátuas grandiosas feitas por generais e ditadores, tão alheias à realidade daquele que serviu de modelo.

Abaixo, uma miríade de luzes tão grande quanto a que havia acima de mim. Mas nem de longe tão fascinante. As luzes dos postes, das casas, dos veículos e dos outdoores preenchiam a paisagem no breu.

Os sons iniciavam a destruir a quietude: escapamentos de ônibus, uma música techno vinda não sei de onde ecoava ainda no vale e uma salva de fogos de artifício estourou por motivo ignorado. Então o galo e mais tarde os cães e os pássaros anunciaram com seus berros o novo dia que chegava.

Vi pouco a pouco o negro do céu dar lugar a uma gradação de cores até chegar ao vermelho-rosado das primeiras luzes solares que alcançavam esta parte do mundo. Foi impossível não lembrar de Homero e do epíteto mais poético repetido por ele: Aurora de Róseos Dedos.

Talvez a melhor e mais verdadeira forma de conhecer o mundo não seja mesmo através dos sentidos, mas esta é com certeza a mais bela e agradável de todas. Gradativamente, pedaço a pedaço, fui reunindo as deste grande mosaico até que ele explodisse em imagens e sensações amalgamadas. Tive a sensação de que vivia. Sabemos que estamos vivos, respiramos, falamos, nos tocamos e nos movemos. Mas quando tomamos consciência disso? Consciência profunda do que é viver e o que isso representa. Naquele instante eu senti o sol nascer, diferente de todas as manhãs quando vejo a mesma cena para ir trabalhar. Eu o esperei, o contemplei, o senti, tive a consciência dele. Isso faz toda a diferença. Senti que havia um sol nascendo, senti o frio, ouvi os sons e vi as luzes, senti que estava vivo. Naquele momento eu vivi mais.

Percebi de repente que estava cantando e tentando ensaiar passos de sapateado no meio-fio. Me senti ridículo. Estava feliz.

Sobre o Amor e o Amar

É preciso ser baixo para amar. É preciso rastejar. É preciso abandonar a altivez da solidão e da individualidade para amar verdadeiramente. Pois amar é conspurcar a própria carne, trair a si mesmo. Abdicar.

Mas que não se engane. Tudo isso não pelo outro, mas por si mesmo. Não é ao outro que se ama, mas o amor que se sente por tal pessoa. Se ama, ama somente o amor que por ela sente, não ela em si. A condição do outro também amar só serve para manter o amor que tem por ele e alimentar o egoísmo. Em profundidade, a reciprocidade do amor em nada interfere na agradabilidade do amar. Ama-se o amor que sente-se e exige-se o amor para não ser humilhado por oferecer algo e nada receber em troca. Quem é capaz de amar por muito tempo e não ser correspondido? O amor só é durável se haver a troca de amores. Se se elege alguém como depositário de amores e atenções, é humanamente justo que se seja também amado.

O amor, assim como a felicidade, requer egoísmo. É preciso pensar em si mesmo para amar e ser feliz amando. Se me gastar em preocupações alheias, não serei feliz. Se me anular em função do objeto de amor, não serei feliz e não amarei por muito tempo. Graças a esse egoísmo profundamente intrínseco e a essa ambigüidade entre abdicação e retorno, o amor é um sentimento humano por excelência, criatura contraditória e egoísta.

O ciúme, a mais abjeta qualidade humana, provém exatamente desse fato e o comprova. Se amar é também esperar retribuição, o ciúme é a possibilidade do egoísmo não saciado. Isso e, no entanto, amor sem ciúme resume-se a mero uso, a utilização do outro, a egoísmo sem amor. O ciúme, irmão (não gêmeo) da posse é inerente e constituinte do amor.

Se rebaixar ao subnível dos Homens para amar e aí alcançar a felicidade e ador mais avassaladora, no ápice do que é ilusório, mundano e humano.

Encontro

Aconteceu quando eu caminhava perdido pelas ruas vazias de uma tarde de sábado melancolicamente ensolarada.

Mãos nos bolsos, passo lento, as costas curvadas em direção ao chão e o olhar divagando sem ver o horizonte de pedra e metal. Na direção contrária da calçada, de passagem, casualmente, um rapaz vinha ao meu encontro. Um olhar rápido, casual, e o reconhecimento. A mesma angústia no rosto, o mesmo desespero, o mesmo pedido estampado: ajuda. Quem iria pedir socorro ao outro primeiro?

Tudo o que pensei a seguir me passou como um raio pelo cérebro. Éramos iguais, sem dúvida. Dois angustiados. Mas olhando bem para ele percebi que o desespero dele não era o mesmo que o meu. Como poderia haver angústia no mundo que não a minha? Mas havia. E ela estava bem na minha frente, uma angústia mundana. Mais ou menos legítima que a minha? Não sei, e não importa saber. O que importa é que não eram angústias iguais e, portanto, ele não podia me ajudar. Eu continuaria sem respostas. Percebi então que todas as angústias que não fossem as minhas seriam diferentes das minhas. Se não existem angústias iguais, não faz sentido buscar auxílio em outras angústias. Ninguém poderia me ajudar. Nem mesmo outro angustiado. Nem mesmo aquele rapaz diante de mim.

Ante o meu atônito silêncio, foi ele quem pediu ajuda para resolver a sua própria angústia. Falou que precisava voltar a Porto Alegre, onde morava, e que estava faltando um dinheiro para a passagem. Quis me vender uma jaqueta tão suja e rota quanto o restante da roupa que vestia e tão maltratada quanto a expressão facial que ostentava.

- Não – respondi.

- Faltam só três reais para completar. Eu to precisando – ele insistiu.

- Não.

- Pode ser alguma moeda também...

- Não.

- Ta bom, valeu...

Ele foi embora. E não abordou mais ninguém na rua, nem antes nem depois de mim. Por quê? Por que pareço mais rico ou mais bondoso? Não. Porque ele também me reconheceu como igual. Ao cruzarmos os olhares, percebemos o desespero no outro e nos comovemos mutuamente por reconhecimento. Mas ele não podia me ajudar e eu não quis ajuda-lo.

Não porque eu pensei que era balela dele essa história de passagem e ele estava precisando do dinheiro era para comprar um baseado. Se fosse isso, seria um desespero genuíno ainda, tão justificável quanto o outro, e talvez ainda mais premente. Eu teria ajudado. Também não era o motivo de não ajudá-lo por medo de assalto, medo que quando eu sacasse a carteira para pegar as tais moedas ele agisse. Não foi por isso. Ao contrário, amortecido como eu estava, acho que mesmo ansiava por um motivo para ser violento. Eu bem que podia ajuda-lo, mas não quis. Preferi a crueldade e a vingança. Ele não podia me ajudar. É isso aí seu merda, foda-se. Experimente um pouco da angústia solitária e sem esperança de resolução.

Mas como acabar com a minha angústia e o meu desespero então? Como agir ante o silêncio do mundo, o sem motivo da vida e a incerteza de tudo? Como responder aos porquês? E pior, sabendo que não existe socorro. Sem ferrolho, sem arrego. Não dá, a angústia é só minha e nunca acaba. Não posso supera-la nunca. O que posso é romper com a lógica da angústia-desespero, usando a angústia como ferramenta, como instrumento de testes do possível.

Preciso aceitar a angústia e usa-la em confronto com ela mesma. Continuar, enfrentar, não saber, angustiar. Sem desespero.

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Esse fato ocorreu no inverno de 2008, mesma data em que este texto foi escrito. Guardado em uma gaveta por quase um ano, finalmente o prendo aqui.

Sonhos e Objetivos de Vida Imbecis Que Eu Tenho de Realizar o Quanto Antes

a1- Caminhar por horas sem destino e dormir à noite na rua em local desconhecido.

2- Fazer "cama-de-gato" em alguém fantasiado de bichinho de pelúcia.

3- Correr pelado de madrugada.

4- Ser exorcizado numa igreja neopentecostal.

18 de maio de 2009

Fantasma

Ó fantasma, fantasma de incomparável beleza,
Que és? Súcubo diurno ou anjo de luz dourada?
Assombras meus dias e minhas noites com tua imagem onírica
E permanece calada. Por quê?
Será por que também eu emudeço diante de ti?

Tua boca é o silencioso túmulo do meu amor
E teus olhos tristes o reflexo da minha dor, que também é tua.
De repente, vais embora.
Deixando para trás perfumadas pegadas de jasmim
E os esvoaçantes cabelos, feito véu de ouro das núpcias adiadas.

Fica somente o porquê. Mas não o porquê de vires.
Isso o sei bem, desde que nasci, agora percebo:
Vieste para me fazer ver além dos meus olhos, me emprestando os teus,
A tal ponto que ter vida e ver os teus olhos se tornassem a mesma coisa.
E eu seria feliz.

Mas por que, por que foste embora?
Tão triste e sem palavras?
Também eu não pude dizer nada.
Serei eu
Fantasma para ti,
Assim como és fantasma para mim?

26 de fevereiro de 2009

Simas: Necrológio

Simas (29/05/1997 - 25/02/2009).

Vou sempre lembrar dos latidos histéricos quando eu voltava pra casa, não importava o tempo que eu passasse fora, cinco dias ou cinco minutos. Quando chover e cair trovoadas, e eu não ouvir o barulho de patinhas arranhando a porta, de um cachorro medroso, querendo entrar em casa pra se esconder debaixo da minha cama pra dormir seguro. No dia que isso não acontecer, ficarei triste. Vou me lembrar de quando mancava quando o tempo estava para chover, numa incrível previsão do tempo que superava a de qualquer meteorologista experimentado e equipado. Vou me lembrar das fanfarronices de valentão que às vezes acabava em surra de cachorros maiores. Vou me lembrar da companhia aos meus pés enquanto eu lia. Vou me lembrar simplesmente do pêlo totalmente negro que foi clareando no tempo.

E agora? Em quem vou limpar os pés antes de entrar em casa? A quem vou dirigir meus palavrões amigáveis? Quem vou carinhosamente xingar? E os tapinhas de eco oco, quem vai receber? E as declarações de amor, ridículas e patéticas, que só um cachorro ouviria sem rir ou ter dor de barriga, pra onde vão?

Um abanar de cauda (que balançava toda a traseira junto) ou um olhar maroto de canto era só o que eu precisava pra mudar do pior humor para um sorriso e uns afagos. Nos momentos em que estive mais só, nunca estive totalmente só. Obrigado, meu amigo.

Um pedaço de mim se foi. Um tanto de alegria a menos no espírito. Adeus Simas.
Um tempo qualquer também chegará o meu tempo se ser eterno no barro. Até lá.

9 de janeiro de 2009

Busca da Verdade

Despi as roupas e saí para fora, no frio, enfrentando o vento cortante.
Olhei tempo demais para a escuridão e nenhuma luz penetra mais em meus olhos e eu só enxergo dentro de mim.
Vociferei contra Deus e abandonei o convívio dos homens.
Tudo pela lucidez desesperada que me traria a Verdade.
Mas ah, a verdade é que não existe Verdade.
Só existe eu: sozinho, cego e nu.

5 de janeiro de 2009

Livros lidos em 2008

Modelo:
Título do livro (Nome do autor)
[Definição, Editora, número de páginas, complementos]

Livros lidos em 2008:

1- Harry Potter e as Relíquias da Morte (JK Rowling)
[Romance, Ed. Rocco, 590 páginas]

2- O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)
[Romance, Ed. Agir, 96 páginas]

3- Crime e Castigo (Fiodor Dostoiévski)
[Romance, Ed. 34, 568 páginas]

4- Eneida (Virgílio)
[Poesia épica, Ed. Martin Claret, 449 páginas]

5- Antologia Poética (Carlos Drummond de Andrade)
[Poesia, Ed. Record, 271 páginas]

6- Cândido ou o Otimismo (Voltaire)
[Novela, Ed. L&PM, 146 páginas]

7- Rei Lear; Macbeth (William Shakespeare)
[Teatro, Ed. Verbo, 327 páginas]

8- Comédias Completas: volume 1 (Aristófanes)
[Teatro, Ed. Iberia, 193 páginas, em espanhol]
{Peças: Os Acarnenses, Os Cavaleiros, As Nuvens, As Vespas, A Paz}

9- Metamorfoses da Cultura Contemporânea (orgs: Fernando Schüler e Juremir Machado da Silva)
[Sociologia/Cultura, Ed. Sulina, 176 páginas]

10- O Restaurante do Fim do Universo (Douglas Adams)
[Romance, Ed. Brasiliense, 238 páginas]

11- Uma Temporada no Inferno & Iluminações (Arthur Rimbaud)
[Poesia, Ed. Francisco Alves, 152 páginas]

12- Pós-Modernismo e Literatura (Domício Proença Filho)
[Literatura/História, Ed. Ática, 84 páginas]

13- O Estrangeiro (Albert Camus)
[Romance, Ed. Record, 126 páginas]

14- A Morte de Ivan Ilitch (Leon Tolstoi)
[Novela, Ed. L&PM, 99 páginas]

15- Ecce Homo (Friedrich Nietzsche)
[Filosofia/Autobiografia, Ed. L&PM, 192 páginas]

16- A Revolução Mexicana (Héctor Alimonda)
[História, Ed. Moderna, 64 páginas)

17- A Morte Feliz (Albert Camus)
[Romance, Ed. Record, 147 páginas]

18- O Fim da Modernidade (Gianni Vattimo)
[Filosofia, Ed. Martins Fontes, 209 páginas]

19- O Visconde Partido ao Meio (Italo Calvino)
[Romance, Ed. Companhia das Letras, 100 páginas]

20- A Cantora Careca (Eugène Ionesco)
[Teatro, Ed. Papirus, 148 páginas]

21- O Rinoceronte (Eugène Ionesco)
[Teatro, Ed. Agir, 176 páginas]

22- Malone Morre (Samuel Beckett)
[Novela, Ed. Brasiliense, 160 páginas]

23- O Avesso e o Direito (Albert Camus)
[Ensaio, Ed. Record, 109 páginas]

24- O Dicionário do Diabo (Ambrose Bierce)
[Dicionário satírico, Ed. Mercado Aberto, 248 páginas]

25- Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão (Arthur Schopenhauer)
[Filosofia, Ed. Topbooks, 258 páginas]

26- Nossa Senhora das Flores (Jean Genet)
[Romance, Nova Fronteira, 331 páginas]

27- Pós-modernidade (Nicolau Sevcenko, et al.)
[Sociologia/Literatura, Ed. UNICAMP, 88 páginas]

28- Moderno X Pós-moderno (Michel Maffesoli e Sérigo Paulo Rouanet)
[Sociologia, Ed. UERJ, 86 páginas]

29- Suicídio, Modo de Usar (Claude Guillon e Yves Le Bonniec)
(Opinião, Ed. EMW, 233 páginas]

30- Névoa (Miguel de Unamuno)
[Romance, Ed. Nova Fronteira, 187 páginas]

31- A História Repensada (Keith Jenkins)
[História, Ed. Contexto, 120 páginas]

32- Partículas Elementares (Michel Houellebecq)
[Romance, Ed. Sulina, 340 páginas]

33- O Aleph (Jorge Luis Borges)
[Contos, Ed. Globo, 146 páginas]

34- Poesias de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
[Poesia, Ed. FTD, 300 páginas]

35- As Origens da Pós-modernidade (Perry Anderson)
[História, Ed. Jorge Zahar, 165 páginas]

36- Grana (Martin Amis)
[Romance, Ed. Rocco, 411 páginas]

37- El Malentendido; Calígula; El Estado de Sitio (Albert Camus)
[Teatro, Ed. Losada, 207 páginas, em espanhol]

38- O Aprendiz de Morte (Terry Pratchett)
[Romance, Ed. Conrad, 253 páginas]

39- Poemas de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
[Poesia, Ed. L&PM, 331 páginas]

40- Devoradores de Mortos (Michael Crichton)
[Romance, Ed. Rocco, 162 páginas]

41- Poesias (Fernando Pessoa, ortônimo)
[Poesia, Ed. Clássica, 189 páginas]

42- Flores do Mal (Charles Baudelaire)
[Poesia, Ed. Sulina, 199 páginas, tradução: Juremir Machado da Silva]

43- Utz (Bruce Chatwin)
[Romance, Ed. Companhia das Letras, 134 páginas]

44- Niilismo (Rossano Pecoraro)
[Filosofia, Ed. Jorge Zahar, 64 páginas]

45- O Novo Século (Eric Hobsbawn)
[História, Ed. Companhia das Letras, 196 páginas, entrevista a Antonio Polito]

46- Diálogos sobre o Conhecimento (Paul Feyerabend)
[Epistemologia, Ed. Perspectiva, 121 páginas]

47- Eu e Outras Poesias (Augusto dos Anjos)
[Poesia, Ed. Martins Fontes, 391 páginas]

48- A Vida, o Universo e Tudo Mais (Douglas Adams)
[Romance, Ed. Sextante, 221 páginas]

49- Um Retrato do Artista Quando Jovem (James Joyce)
[Romance, Ed. Siciliano, 255 páginas]

50- Noite na Taverna (Álvares de Azevedo)
[Contos, Ed. Avenida, 112 páginas]

51- Breviário de Decomposição (Emile Cioran)
[Filosofia, Ed. Rocco, 176 páginas]

52- Lenz; Lenz - Um Relato (Georg Büchner; Peter Schneider)
[Novelas, Ed. Brasiliense, 165 páginas]

53- Silogismos da Amargura (Emile Cioran)
[Aforismos, Ed. Rocco, 93 páginas]

54- Nova Antologia Poética (Mario Quintana)
[Poesia, Ed. Globo, 175 páginas]

55- Orgulho e Preconceito (Jane Austen)
[Romance, Ed. Martin Claret, 316 páginas]

56- Quando Fui Outro (Fernando Pessoa)
[Poesia, Ed. Objetiva, 223 páginas, org. Luiz Ruffato]

57- Nau Frágil (Juremir Machado da Silva)
[Novela, Ed. Sulina, 96 páginas]

58- A Queda (Albert Camus)
[Novela, Ed. BestBolso, 111 páginas]

59- Introdução à História da Arte (Kenia Pozenato e Mariem Gauer)
[História, Ed. Mercado Aberto, 104 páginas]

60- Odes de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
[Poesia, Ed. Ática, 204 páginas]

61- Que É Contracultura? (Carlos Alberto Messeder Pereira)
[História, Ed. Brasiliense, 97 páginas]

62- O Niilismo (Franco Volpi)
[Filosofia, Ed. Loyola, 163 páginas]

63- Quintana de Bolso (Mario Quintana)
[Poesia, Ed. L&PM, 168 páginas]

64- Defeitos Escolhidos & 2000 (Pablo Neruda)
[Poesia, Ed. L&PM, 128 páginas, bilíngüe]