13 de julho de 2010

Que fizeste dela?

"A tua vida, que fizeste dela?"
Indaga-me o vento do poema do poeta
na melancólica tarde do feriado vazio,
no desaguar do rio do tempo,
apavorante sensação de estio.

Derramei-a sobre páginas que esfarelam-se, e
troquei meus dias de sol por
retângulos de papel que não me pertencem.

Profusão de ações tão mecânicas quanto necessárias:
ida ao banco e ao supermercado,
festas em ambientes climatizados com o sem-sentido,
horas sentado ouvindo zurros para aprender a ser espantalho.
Tantas cerimônias do desamor fado!

Voluntário abandono de mim,
revolto-me às vezes às vésperas do caminho
para retomar o curso das águas

E devolver-me o direito
ao delicioso tédio
de observar a vida que vai embora
admirando, através do vidro da janela que embaça,
a chuva que cai lá fora.