1 de dezembro de 2009

Dizem

Dizem que devo amar o próximo,
mas não dizem que próximo é esse.
Todos?
Amar todos? Hipocrisia.
Não, obrigado. Prefiro a cruel honestidade.
Se amar, devo escolher quem. Se os amo, os protejo e os faço especiais para mim.
E para isso é preciso que eu os coloque acima de outros.
Como amar quem não conheço? Burrice.
Não, obrigado. Prefiro a limitada inteligência.

Dizem que devo estender as mão,
porque elas são boas e úteis quando firmes e limpas,
caso contrário, restará apenas a chuva.
Não é difícil me culpar pelo orgulho e pela amargura.

Dizem que devo fazer algo para o mundo,
um mundo que nunca fez nada por mim,
nem por ninguém.
Um mundo indesejado e decadente, que não escolhemos.

Dizem que devo agir,
mas não dizem por quê.
Dizem que a outra opção possível é a inércia
e que só me cabe escolher,
mas não dizem é o porquê de ter que escolher.
Não dizem porque, porque não sabem porque,
apenas dizem. Porque é bom. Que diante do bom, não é importante o porquê.
Mas não posso suprimir em mim essa fome de sentido,
onde minh'alma vaga fareja o porquê. Fareja a aurora e o crepúsculo, onde o insucesso sempre retorna.

Querem dizer que não tenho importância só para mim.
Sou apenas se para-os-outros. Sou se servil.
Querem dizer que sou fraco por ser só. Querem dizer que preciso deles para ser.
Mas não podem. Falam detrás de máscaras.

Por fim,
dizem que desperdiço, que traio, que poluo.
Temem não ser eternizados.
Conhecem e repudiam a podridão em que chapinham tanto quanto eu.

Exalto a diversidade. Da única vida que tenho e à qual digo "sim". Na qual explodo e experimento.
Repugna-me a violência, não por ser o próximo,
mas por ser um outro, que bem poderia ser eu.
Na elegia do egoísmo, defendo a minha raça.
Minha revolta é indolente e metafísica.
Minha ação é interior. Minha oferta é a tolerância. E isso é mais do que jamais fizeram ou proporcionaram.
Mas isto não dizem. E nunca dirão.