30 de agosto de 2011

O Sentimento Amoroso. E Chagall.

Marc Chagall (1887-1985): pintor.


















Nefelibata desiludido preso ao chão dos cuidados do ceticismo. Desconfia. Teme. E ignora. Ainda que apaixonadamente içado, resiste. Sorri felicitadamente, sem alçar os pés.

Até que...

Para ti, palavras são mais do que o vento que compõe o som. Palavra não evanesce. Palavra é saliva. Palavra é sangue. Palavra é espírito e matéria. E isso são coisas que não podem ser desperdiçadas. Palavra é raridade. Por isso preciosa. Palavras são confissões, trocas, atestados, promessas, verdades. Cada palavra carrega sentidos e intensidades. Não podes jogá-las irresponsáveis. Tem de dar direção e intenção a elas. És o silencioso asceta da comunicação. Pois dar a tua palavra é dar o que tens de mais caro. Com a palavra, proferes a ti mesmo. E te entrega. És tu mesmo palavra.

Por isso titubeia. Tergiversa. Adia. Fica no chão, não levita ao lado da tua amada. E o pior: a segura no solo. Não consegue dizer sem ter a certeza. Sem estar certo da tua promessa e das tuas ideias. Está disposto, mas quer ser o mais possível veraz e franco. És um homem duro, mas reserva a ti mesmo a pior rigidez. Admite, sem nocivas consequências de estima, que outrem seja maleável, inconstante, indeciso, mutante. Mas não te permite pensar que até tu pode não ser mais o mesmo se assim desejar. Aos outros todas as permissões, a ti retidão absoluta. Uma vez tomada a decisão não poderá voltar? Deve te elevar até os confins e realizar o mais difícil: SE permitir.

Quem disse que as metamorfoses são permanentes? Quem falou que não se pode voltar a ser crisálida? Se os edifícios alheios podem desmoronar e não durar, porque as tuas construções deveriam durar para sempre? Nem todos os prédios são perenes. Sobre boas bases se constroem boas construções, ainda que abaláveis. Construa.

Ou acaso ignora em teu peito o ar que escapa? O coração que acelera e ferve teu sangue? O pensamento que se perde num rosto? As mãos que relembram? Um corpo que pede e uma alma que anseia? O pneuma que recupera? Um sopro que sustenta e embala e anima? Anima alma.

Afirma o que age em ti, cumpre tua vontade. Torna-te palavra.

Voa, voa, voa. Segue a borboleta. E anuncia.


Te amo.

6 de agosto de 2011

5 Filmes Preferidos

A seguinte lista foi elaborada para ser postada no Forum Valinor no topico Cinco Filmes Favoritos com Kainof.


Na Natureza Selvagem (Into the Wild – 2007)


O filme é uma adaptação do livro homônimo de John Krakauer, que por sua vez é inspirado pelo personagem real, e narra o caminho de Christopher McCandless da formatura na universidade ao seu destino final no Alasca. Como ele largou família, futuro, dinheiro, conforto, etc., para se aventurar pelas estradas com o desejo de viver isolado em meio a natureza, impulsionado pela insatisfação com a sociedade consumista e coisificadora.

As paisagens são exuberantes. As personagens que ele encontra são divertidas. As citações diretamente escritas pelo “Supertramp” incitam à reflexão. A trilha sonora de Eddie Vedder é inacreditável: nem uma única música pode ser considerada média, só de alto nível pra cima. E o modo de vida escolhido pelo protagonista inspira. Pra mim é uma história de heroísmo. Do único heroísmo possível na contemporaneidade. A busca por uma verdade interior, correndo os riscos que o meio físico interpõe.

O Incrível Exército de Brancaleone (L'Armata Brancaleone – 1966)

Brancaleone é uma paródia dos filmes épicos de temática medieval nos quais grandes e valorosos heróis salvam donzelas indefesas. Nesse filme, todas as personagens são risíveis e sem caráter, o herói não é tão heróico assim e a ridicularização é constante. Por esse aspecto Brancaleone se aproxima de Dom Quixote, em que um quase-nobre esquisito almeja a riqueza e o heroísmo num cenário social decadente. Até mesmo o meio-cavalo-meio-burro amarelo (!) de Brancaleone chama-se Aquilante (mala bestia di la mala sorte!), numa clara referência ao Rocinante quixotesco. Pelo roteiro já seria suficientemente engraçado, mas ainda conta com o talento tipicamente italiano para as comédias de farsa. E uma trilha sonora absolutamente cativante (viciante pra mim).



O motivo principal para este filme estar no meu top 5? Eu adoro paródias! E essa é muito bem feita e engraçada sem forçar a barra.

Spartacus (Spartacus – 1960)

Desde muito guri meu gênero de filmes preferido sempre foi o épico. De todos os que assisti, nenhum tem uma marca tão profunda na minha vida quanto Spartacus, o escravo gladiador da Roma Antiga que se rebelou e marchou contra a capital, libertando mais escravos no trajeto e regimentando um exército pela liberdade. Uma história de fato muito bonita e fácil de ser romantizada, e qualidade de encher os olhos. À parte o preponderante maniqueísmo hollywoodiano, que heroiciza sobremaneira Espártaco e seus companheiros, ao passo que demoniza os patrícios romanos, é um filme grandioso e espetacular, de um safra de épicos que somente os meados da década de 60 produziu.

Assisti ele na escola, aos 13 anos, e não sei como aquele filme legendado e antiquíssimo (para uma criança) me chocou e encantou de uma forma tão espetacular que influenciou muito minha paixão por História Antiga. Além de cinematograficamente excelente, Espártaco tem um espaço especial na minha vida.

Hair (Hair, 1979)

O conturbado fim dos anos 60 e seus movimentos socio-culturais estão entre os meus períodos preferidos na história. Movimentos juvenis de rebeldia, de pacificismo, de marginalização dos dogmas morais vigentes, etc, expostos principalmente na música e no comportamento. Entre esses movimentos, a cultura hippie adquire um certo destaque, por reunir todos esses parâmetros. Hair é um filme, inspirado no musical da Broadway do efervescente ano de 68, sobre um jovem do interior dos EUA recém chegado a NY para se alistar no exército e combater no Vietnã. Mas na metrópole ele faz amizade com um bando de hippies e se apaixona à primeira vista por uma moça rica.

Com canções de letras simples e psicodélicas, das quais “Age of Aquarius” é apenas a mais conhecida, Hair enfileira músicas e performances com temas como drogas, sexo, guerra, estilos de vida, amor, morte, exclusão, marginalização, impulsionados pelo hippie Berger, da melhor escola dos vagabundos cativantes, numa atuação excelente de Treat Williams. Hair encanta pela, concomitante, simplicidade do enredo e dos temas musicais e a apurada observação social, descomplicando o complexo.

O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring – 2001)


Já gostava de mitologia, fantasia, épico, relatos de viagens, combates com armas brancas, monstros. A Sociedade do Anel tem tudo isso! Quando vi o trailler na TV pirei, sabia que seria um dos filmes mais espetaculares que já tinha assistido. E foi. O filme que mais vezes assisti na vida: mais de 30, creio. A Sociedade é o meu preferido por ser o primeiro, por ser o mais verossímil em termos de feitos heróicos (ainda que grandiosos), por falar mais sobre os hobbits, por ser um enredo de descobertas para as personagens e para o espectador.