5 de abril de 2011

Walden (ou a Vida nos Bosques)


"Dirige teu olhar para dentro de ti
E mil regiões encontrarás ali,
Ainda ignotas. Percorre tal via
E mestre serás em tua cosmografia"


Henry David Thoreau em 1845 decidiu se isolar à beira do Lago Walden, entre a mata, onde construiu com as próprias mãos uma cabana. Lá viveu por cerca de dois anos, alimentando-se às próprias custas com a comida que plantava e as atividades solitárias que desenvolvia, entre elas a observação da natureza, contemplação e o estudo do ambiente e de si mesmo. Em "Walden" escreveu as suas memórias dessa experiência. Seus escritos interiorizados, moralizantes, críticos, com uso de elementos da natureza como analogias é absolutamente mordaz e impactante.

Numa sociedade de crescente consumo e capitalização, Thoreau se destacou pela rebeldia em escolher não participar, evitar a mercadorização do indivíduo, praticar o afastamento da valorização através do dinheiro da existência. Thoreau profetizou a monetarização da sociedade e não quis contribuir com ela. Amava a Natureza e por extensão o homem que se molda por si, o homem naturalmente humano:

"Nunca é tarde demais para abandonar nossos preconceitos. Não se pode confiar às cegas em nenhuma maneira de pensar ou de agir, por mais antiga que seja. O que hoje todo mundo repete ou aceita em silêncio como verdade amanhã pode se revelar falso, mera bruma de opinião que alguns tomam como uma nuvem de chuva que fertilizaria seus campos"

"Eu também tinha tecido uma espécie de cesto de tessitura delicada, mas não tinha feito com que valesse a pena, para ninguém, comprá-lo. Mas nem por isso deixei de pensar que vali a pena tecê-los e, em vez de estudar como fazer com que valesse a pena para os outros comprar meus cestos, preferi estudar como evitar a necessidade de vendê-los"

"Onde vai parar essa divisão do trabalho? E no final das contas, a que objetivo serve? Claro que outra pessoa também pode pensar por mim; mas nem por isso é desejável que o faça e que eu deixe de pensar por mim mesmo"

"Há mil homens podando os ramos do mal para apenas um golpeando a raiz e talvez aquele que dedica mais tempo e mais dinheiro aos necessitados seja quem mais conttribui, com seu modo de vida, para gerar aquela miséria que inutilmente tenta aliviar"

"O homem que não acredita que cada dia encerra uma hora mais matutina, mais sagrada e mais radiosa do que a que já profanou, este desesperou da vida e desce por uma senda cada vez mais escura"

"Gosto de ficar sozinho. Nunca encontrei companhia mais companheira do que a solidão. Em geral estamos mais solitários quando saímos e convivemos com os homens do que quando ficamos em nossos aposentos"

"Só quando nos perdemos, em outras palavras, só quando perdemos o mundo, é que começamos a nos encontrar, entendemos onde estamos e compreendemos a infinita extensão de nossas relações"

"as virtudes de um homem superior são como o vento, as virtudes de um homem comum são como o capim; quando vento passa o capim se curva"

"Talvez os fatos mais assombrosos e mais reais nunca sejam comunicados de homem a homem. A verdadeira colheita de minha vida diária é inatingível e indescritível como as coreas da manhã ou do anoitecer. É um pouco de poeira das estrelas que eu apanho, um pedaço do arco-íris que eu colho"

"Tardamo-nos no inverno quando já é primavera"

"Ao mesmo tempo em que queremos aprender e explorar todas as coisas, esperamos que todas as coisas sejam misteriosas e inexploráveis, que a terra e o mar sejam infinitamente selvagens, imapeados e insondados porque insondáveis. Nunca nos cansaremos da Natureza"

"A impressão que tem um sábio é a da inocência universal"

"O universo é maior do que as visões que temos dele"

"Seja o Colombo de novos continentes e mundos inteiros dentro de si mesmo, abrindo novos canais, não de comércio, mas de pensamento"

"Existem aqueles que não tem respeito por si mesmos e são patriotas, e sacrificam o maior ao menor. Eles amam o solo de suas sepulturas, mas não têm qualquer afinidade com o espírito que ainda pode lhes animar o barro da existência"

"A superfície da terra é macia e se deixa imprimir pelos pés dos homens; o mesmo ocorre com os caminhos por onde viaja a mente. Como, então, devem ser gastas e empoeiradas as estradas do mundo e como são fundos os sulcos da tradição e da conformidade"

"Se você tiver construído castelos no ar, não será trabalho perdido; é ali mesmo que eles devem estar. Agora ponha-lhes os alicerces"

"O senso mais comum é o dos homens adormecidos, que o expressam roncando"

"Diga o que você tem a dizer, não o que deveria dizer. Qualquer verdade é melhor do que a simulação"

"Não se incomode muito em ter coisas novas, sejam roupas ou amizades. Torne-as do avesso; retorne a elas. As coisas não mudam, mudamos nós. Venda suas roupas, conserve seus pensamentos"

"Mais do que amor, mais do que dinheiro, mais do que a fama, deem-me a verdade"

"A luz que extingue nossos olhos é escuridão para nós. Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia não cessa de amanhecer. O sol é apenas a estrela da manhã"

"Quem não tem uma época de plantio do caráter como pode esperar uma colheita de pensamentos?"

THOREAU, Henry David. Walden. Trad: Denise Bottmann. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2010, 336 p.