6 de fevereiro de 2012

Carta ao Amor Distante

Como poderia saber, ao olhar nos teus olhos, que seria meu? Que seria para mim? Que estaria comigo quando a noite caísse e também quando amanhecesse o dia? Que estaria comigo mesmo sem estar durante todo esse tempo em que o mundo surgisse? Como saberia, se isso só se percebe com o tempo? E quando olhei nos teus olhos aquele dia primordial, teus olhos nada falavam de futuro ou de passado. Naquela ocasião teus olhos eram apenas presente. Um presente para mim do agora. Como poderia saber, ao olhar nos teus olhos, que seria meu, amor, distante?

Entretanto, tua distância foi próxima desde que deixou de ser proximidade. Sempre que te busco, é em mim que te encontro. Tão apaixonante quanto sempre. Quando tenho medo, sinto tua mão na minha. Quando rio, é o som da tua risada em meus ouvidos. Quando a brisa me toca, imagino teu sopro brincando nos meus cabelos, como costuma fazer sorrindo provocante. Quando chove; ou quando ouço aquela nossa música; ou quando uma frase recorda uma piada que temos entre nós; quando anseio pelo teu ávido coração que ecoa pulsações pelo teu corpo, é o meu próprio que encontro, que se agita e se acalma no meu peito.

E quem diria que iríamos ter que errar tanto até que nos encontrássemos. Errar de alma em alma, à procura de outros e de nós mesmos em outros, encontrando sorrisos e lágrimas que fizeram covardes nossas próprias intenções. Quem diria que teríamos que errar tanto até nos encontrarmos. Errar contra nós mesmos. Erros que tornaram demasiado cautelosos nossos semblantes. Até nos encontrarmos. Para então podermos errar juntos.

Distantemente tão próximos, impossível agora imaginar dias sem olhar sempre novamente teus olhos e saber então viver na proximidade do meu amor distante.

Com todo meu amor, distante, te remeto esta carta. A ser entregue por suaves e coloridas borboletas, com o pedido caprichoso de pousar em teu estômago.