20 de outubro de 2009

Por Favor

Por favor, faça isto por mim,
Só lhe peço isto:
Me dê à luz, abra meus olhos,
Me ensine a falar e a usar as farsas.
Acompanhe meu crescimento e me engane
Dizendo que o mundo tem cores.
Me agrida e grite comigo como se eu entendesse tudo.
Me faça parte do rebanho sem pedir minha opinião.
Seja minha mãe, me embale no colo,
Beije minha testa à noite e na noite seguinte
Se suicide
Por desencanto com a vida.
Ah, por favor
Seja meu pai, meu modelo, minha meta
E depois me rejeite, chute e cuspa.
Desapareça sem satisfação.

Me ame, diga que me ama.
Faça juras de amor eterno para mim.
Então me traia.
Me culpe por isso tudo, diga que não mais me ama
E vá embora com lágrimas sem olhos.
Seja meu amigo,
Divida a mesa comigo,
Depois roube meu ouro, meu teto, minha esposa e meu cão.
Seja meu filho,
Faça de mim a tua fortaleza super-heróica,
Mas depois me odeie e sinta vergonha do que sou.

Me dê um emprego
Que me prive da luz do sol,
Que abocanhe meu tempo de vida e preencha meu rosto com rugas
Para me pagar com felicidade de papel
Efêmera, falsa e superfaturada.

Me dê, por favor,
Me dê um revólver
Com o qual possa atirar contra a cabeça.
Mas depois salve,
Me socorra
E salve a vida que não quero.
Devolva a minha respiração sem movimento e sem sanidade.
Acabe de roubar o que eu já não tinha mais
E me abandone para sempre num chão úmido de um canto escuro
Onde eu não veja a luz, não coma, não beba
E alivie-me sobre mim mesmo durante anos.
Até que meu coração pese tanto
Que não tenha mais força para continuar batendo.

E então, finalmente,
Ah, sim, por favor,
Arranque minha alma
E a arraste para o inferno
Como paga aos meus pecados.
Obrigado.

4 de outubro de 2009

A Morte da Estrela

Quão longa ou quão curta é a vida de uma estrela? Elas, como tudo o que há, não são eternas. Medir esse tempo é incerto. A imensidade de algo sucumbe ante a sua intrínseca finitude.

Tive eu, já certa vez, uma estrela. Tão fugaz e efêmera que nem sei quantas Eras passaram antes que eu a perdesse. Estando, preguiçoso amador, a fitar o firmamento pontilhado, vi, após longo tempo, uma estrela que nunca havia visto me sorrir o mais encantador dos sorrisos estelares. Todas as noites, então, admirava a estrela enquanto ela sorria.

A admirei tanto que minha alma se perdeu, alçou o céu noturno até beijar a estrela por tantos segundos que o Universo se manteve inalterável. E terminou. Minha alma caiu com o perfume entranhado e a estrela sumiu.

Foi embora, deixando para trás o rastro dourado da cabeleira meteórica que ainda brilha com saudade em meus olhos.

Não, não caiu, vindo ao meu encontro, incendiando a minha vida em poeira cósmica. Impassível que era em abandonar as alturas das suas certezas. Não, não morreu, minha alma ainda fareja o seu perfume.

Agora, nas noites de insônia, que são todas, com cem rugas a mais no rosto, observo o céu. E toda estrela que sorri me alegra. Até perceber que não é ela a minha estrela sorrindo. E prossigo a minha busca carrancudo.