16 de julho de 2008

Quero ser mendigo


Todas as criancinhas e jovens da nação querem ser médicos, advogados, engenheiros, empresários ou celebridades. Mas nenhum deles quer ser mendigo, indigente ou sem-teto. Opa, eu quero! Mamãe, quero ser mendigo.

Quero ser o salmão que nada contra a corrente e que sobe o rio. Na contra-corrente do que todos querem, sou do contra, sou à margem.

O mendigo é o excluído. Excluído do lucro, da compra, da venda, da produção, da circulação do capital enfim. O mendigo é o indivíduo colocado a parte do funcionamento da sociedade. A peça desnecessária nas engrenagens da grande máquina da humanidade é o mendigo.

Mas não é isso. O mendigo faz parte da sociedade, é o aborto dela, o rejeitado, o lixo social. O mendigo está ali para servir como exemplo de fracasso e como comparativo de riqueza e poder. Afinal, o que pode acontecer de pior a alguém do que ser um mendigo? Mendigar é o fim social, a não-produção. É o chão do qual ninguém pode passar. É o que há de inferior e comparar-se a ele é elevar a si mesmo.

E é por isso que o mendigo é livre e é um rebelde. A sua liberdade é alcançada pelo desprezo e pela exclusão. Ele é o homem sem futuro. Seu único destino é a miséria. Ele renega e está livre dos objetivos, diretrizes e moralidades burguesas. Não é nem pró nem contra o capitalismo. Não é alinhado a nenhuma ideologia que não a sua. O mendigo não é nada, não deseja nada, não pode querer ser nada. E por isso tem a liberdade mais profunda que um homem finito poderia almejar. Porque ser livre é cair no vazio.

E que é comer da caridade? Isso não agrilhoa o mendigo. Apenas o vinga.

Quero ser mendigo. Quero a liberdade de não ter mais nada a perder.

2 comentários:

Rodrigo Tomaz disse...

tem dias em que a gente se satura das pessoas "normais" que são invejosas ,querem só o mal umas das outras, e se enche de vestir a mascara da normalidade imbecil que a sociedade impõe, da vontade de largar tudo e conhecer esse mundão afora,ser o doidão mais noraml que existe

Lia disse...

Amei. Parabéns pelo texto!