9 de junho de 2008

Sobre o homem. Com a palavra: um cão

Não gosto muito de postar produções de outras pessoas no meu blog. Mas essa eu achei tão legal, tão supimpa que dei uma chance...

É um trecho do livro "Névoa" de Miguel de Unamuno, em que o cachorro Orfeo disserta sobre o homem e a sua relação com sua espécie, os cachorros.

"(...) Que animal estranho é o homem!
(...)
Nós, os cães, uivávamos, mas para imitar o homem aprendemos a ladrar. E nem assim conseguimos nos entender com ele. Só os entendemos de fato quando ele uiva. Quando o homem uiva, ou grita, ou ameaça, nós o entendemos muito bem, nós, os outros animais. É como se nesses momentos não estivesse distraído em outro mundo qualquer!... Mas ele ladra à sua maneira, fala, e isso lhe serviu para inventar o que não existe, ao invés de ficar naquilo que existe. Quando põe nome em alguma coisa, já não vê essa coisa, mas apenas ouve o nome que lhe deu, ou o vê escrito em alguma parte. A língua lhe serve para mentir, inventar o que não existe e confundir-se. E tudo nele é pretexto para falar com os outros ou consigo mesmo. Chegou ao ponto de contagiar nós, os cães!
(...)
E querendo nos transformar em farsantes, em macacos e cães sábios! Chamam de cães inteligentes aqueles aos quais ensinam a reperesentar farsas, quando os vestem e os ensinam a andar indecorosamente sobre as patas traseiras, em pé! Cães inteligentes! É a isso que os homens chamam inteligência! Representar farsas e andar sobre dois pés! (...)"

UNAMUNO, Miguel de. Névoa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 184-185.

Um comentário:

Julie Azevedo disse...

Nossa, muito bom esse texto!
Coitado do cão que vira escravo do homem para passar ridículo.

=]